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terça-feira, junho 22, 2010

Pobreza é maldição? - Parte 1

Encontrei esta entrevista na revista Cristianismo Hoje e achei interessante postar aqui.
Pra quem já leu, diz aí se concorda, no que concorda ou não..., pra quem não leu, aproveite!!



A pobreza é uma maldição

A marca de um apóstolo é o sofrimento, é estar entre os pobres.
pobreza_entrevista
Com um jeito simples, fala mansa, sorriso tímido e olhar pacato, Viv Grigg facilmente passaria despercebido, não fosse pela notória aparência de estrangeiro. Mas por trás de seu temperamento tranquilo e comedido, este neozelandês de 58 anos faz um trabalho de gigante. Oriundo de uma família de posses, decidiu abrir mão dos confortos da vida abastada para viver em favelas miseráveis de países pobres e levar o Evangelho de Cristo aos mais necessitados. Munido de conhecimentos adquiridos em seu mestrado e doutorado em teologia, seguiu o que entende ser o exemplo de Jesus na encarnação: deixou sua realidade para viver o dia a dia dos carentes.
Grigg veio ao Brasil para compartilhar sua visão com os cristãos do país. Trata-se de uma filosofia de ação que ele batizou de “avivamento transformador”. Seu objetivo é treinar uma tropa de missionários urbanos locais para se unir a um exército internacional disposto a entrar nas favelas, mesclar-se à comunidade a compartilhar as boas novas de salvação com cores econômicas, sociais e políticas. Já há muita gente fazendo isso, por certo; mas Grigg enfatiza a necessidade de treinamento para que pastores e missionários urbanos possam de fato promover transformação social através do Evangelho. Ele coordena a Urban Leadership Foundation (www.urbanleaders.org, por enquanto apenas em inglês), entidade que é a base do projeto.
Mas esse batista de berço tem uma razão a mais para vir ao Brasil: ele é casado há vinte anos com a missionária brasileira Ieda, da Igreja Metodista Livre, com quem tem três filhos. Por isso, sua relação com o país é especial. “Quero encontrar cinco mil brasileiros que aceitem esse desafio”, anuncia. Autor de O grito pelos pobres e Servos entre os pobres (Ultimato), que está em sua segunda edição, Grigg tem uma visão bem própria acerca da teologia da prosperidade, riqueza e mutualidade. “Não é pecado ser rico, desde que se viva com simplicidade e se ajude os outros”, pontifica. No seu entender, e ao contrário do que boa parte da itelligentzia prega, programas governamentais que normalmente são acusados de assistencialismo podem ser boas iniciativas. Durante sua passagem pelo Rio de Janeiro, Viv Grigg recebeu a reportagem de CRISTIANISMO HOJE para esta entrevista exclusiva nas dependências do Seminário Teológico Betel, que colaborou no agendamento do encontro.


CRISTIANISMO HOJE – A Igreja Evangélica brasileira é hoje muito influenciada pela teologia da prosperidade. O pobre realmente precisa de promessas materiais para seguir a Cristo?
VIV GRIGG – Sim, precisa. Mas isso não tem necessariamente a ver com a teologia da prosperidade. Quando a pessoa se converte, imediatamente ela ora e Deus começa a responder suas orações. A conversão a leva a integrar-se a uma comunidade de fé, que também é uma comunidade econômica, na medida em que todos ali se ajudam. Então, o indivíduo começa a abandonar determinados pecados – alcoolismo, dependência de drogas, violência doméstica… Quando essas coisas mudam, a situação econômica da família começa a se transformar, e essas são graças imediatas da conversão. Apesar das críticas que sofre, o pentecostalismo gerou um grande impacto: a vida das pessoas mudou, o senso de comunidade promoveu benefícios econômicos resultantes de uma ajuda mútua e seus participantes desenvolveram um senso de identidade. Isso é parte das bênçãos de Deus. O Senhor quer que nós tenhamos o suficiente para viver. Essa parte da doutrina é correta, bíblica e muito boa para os pobres. No entanto, isso não inclui mansões, carros de luxo e um estilo de vida esbanjador.


Então, o problema da teologia da prosperidade é a busca desenfreada pela riqueza?
Os ensinamentos mudam na medida em que as pessoas ascendem em seus padrões de vida. O problema da teologia da prosperidade é que ela não faz essa distinção; ela ensina que todos devem ter um padrão de vida nababesco, mas isso é anátema para Deus. Existe um padrão de vida que é justo – e que não é igual para todos. Mas é fácil perceber qual é o estilo de vida justo: é possível a um rico viver de forma simples e usar sua riqueza para ajudar os outros. Isso é o que eu ensino para a classe média e os ricos. Outro problema da teologia da prosperidade é que ela afirma que, se as pessoas derem, Deus vai abençoar. Não existe nada na Bíblia que diga que, se você der dinheiro, então Deus vai lhe abençoar. Existe uma manipulação para o ganho pessoal, que é o pecado de Ananias e Safira. E eles morreram, porque Deus amaldiçoou esse pecado.

Há alguma base bíblica para se dizer que o pobre é abençoado por Deus, como ensina a teologia da libertação, ou que o rico é abençoado, como prega a teologia da prosperidade? Pobreza ou riqueza significam necessariamente bênção ou abandono por parte de Deus?
Pobreza é sempre uma maldição, e o Senhor quer que nós tiremos as pessoas da pobreza. Mas a riqueza, por outro lado, afasta as pessoas de Deus e remove delas a percepção espiritual. Então, existe um grande perigo na riqueza, e o melhor é que nos afastemos dela. Deus quer nos abençoar com bênçãos materiais. Isso não é um problema. A pobreza é uma maldição, mas os pobres são abençoados. A riqueza é uma bênção, mas os ricos são amaldiçoados. Temos então que entender o que isso significa. Aqueles que têm riqueza material precisam organizar suas posses em favor dos necessitados e viver com simplicidade. Eu ensino uma frase: “Ganhe muito, consuma pouco, guarde nada, dê generosamente e celebre a vida”. Essa tem sido uma frase muito útil para a classe média, pois estimula as pessoas a viver num nível simples, razoável e suficiente.

Mas hoje em dia, muitas igrejas, ministérios e líderes religiosos também enriquecem, quase sempre às custas dos dízimos e ofertas dos fiéis…
Ao longo da história, vemos que poder e riqueza na Igreja corrompem. Os apóstolos de verdade foram homens que sofreram grandemente. Paulo, embora fosse rico, optou pela pobreza por amor ao Evangelho. O apóstolo Pedro, junto com João, disse ao deficiente que estava na porta do templo que não tinha ouro nem prata. A marca de um apóstolo é o sofrimento, é estar entre os pobres. Os dízimos não devem ser dados para financiar sacerdotes ou igrejas. Na Bíblia, os dízimos eram dados em primeiro lugar para cuidar dos pobres. O que era dado aos levitas era o dízimo do dízimo, ou seja, um centésimo do valor total. Ao longo dos séculos, o princípio do dízimo tem sido abusado com o objetivo de acumular riquezas para as igrejas, enquanto as pessoas dentro delas continuam pobres. Isso não é correto. Afirmo que o dízimo deve ser entregue às igrejas para o benefício dos pobres. Na Igreja primitiva, os ricos vendiam seus bens e os entregavam aos apóstolos, que distribuíam aos pobres. Ou seja, os líderes não retinham o dinheiro para si. Abusar desse princípio é uma violação das Escrituras.

O Evangelho pregado aos pobres deve ser diferente daquele pregado às pessoas mais abastadas?
O Evangelho de Cristo é, ao mesmo tempo, o Evangelho da misericórdia e do juízo. Para os pobres, você ouve Jesus dizendo “venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso”. Mas você encontrará Jesus confrontando os fariseus e os ricos, ressaltando como é difícil para um rico entrar no Reino dos céus. Qual foi seu conselho ao jovem rico? Que abandonasse tudo o que tinha e o seguisse. Mas aquele homem, apegado à sua riqueza, recusou. Então, o Evangelho, para o rico, é uma mensagem de juízo – ainda mais em um país como o Brasil, onde o enriquecimento geralmente se dá por meio da opressão do pobre ou da corrupção. Existem exceções, claro. E aqueles que ficam ricos por meios justos são abençoados por Deus. Veja que homens como Abraão e Salomão foram ricos e abençoados.
Sendo assim, que diferença deve haver entre o evangelismo voltado a um grande empresário e a pregação ao pobre?

São contextos muito diferentes. É preciso olhar os contextos, os meios utilizados na comunicação, o estilo. A mensagem não é muito diferente, mas a maneira de comunicá-la, sim. Os pobres gostam da verdade absoluta, das coisas ditas com autoridade e simplicidade. Já com a comunidade empresarial é necessário haver uma identificação com seu estilo de vida. Então, para alcançar empresários, você pode fazer um encontro em um restaurante ou em um salão especificamente preparado para isso. Certa vez, fiz uma apresentação do livro de Provérbios voltada para lideranças. Uma das pessoas que compareceram era o líder de uma empresa de seguros que, ao final, comentou comigo que jamais tinha imaginado que a Bíblia tivesse tanto a ver com a vida real. Você precisa trabalhar com as pessoas no meio em que elas estão e relacionar a mensagem de Cristo aos assuntos que têm a ver com sua vida.

Essa conexão com a realidade também deve nortear o discipulado?
Jesus não pregou um Evangelho puramente espiritual. Ele pregou um Evangelho que era espiritual, mas também econômico, social e político. Quantas pessoas foram até Cristo por intermédio do Evangelho espiritual? Basta ler a Bíblia. Nicodemos foi até ele por meio de uma discussão política. Zaqueu o procurou por meio de uma discussão econômica. Um quarto dos ensinamentos de Jesus é sobre aspectos econômicos. O discipulado é um assunto crítico. Eu diria que existe hoje um discipulado espiritual razoável: as pessoas sabem ler a Bíblia, orar, adorar. Mas não existe virtualmente nenhum discipulado econômico. E as áreas de relacionamentos sociais, relacionamentos conjugais, do caráter do discípulo, são muito fracas. E certamente se faz muito pouco discipulado voltado para aspectos políticos, de ordem pública. O resultado disso é que as pessoas não seguem a Cristo em todos os aspectos de sua vida. São piedosas apenas na igreja, aos domingos.

Parte 2 amanhã de manhã!!

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